Artigo de Opinião, “Quero mais! Por uma Psicologia em Portugal mais Forte!!!”, por Luís Franklin Marques

Artigo de Opinião, “Quero mais! Por uma Psicologia em Portugal mais Forte!!!”, por Luís Franklin Marques

Quero mais! Por uma Psicologia em Portugal mais Forte!!!

Sou psicólogo clínico desde o ano 2000, acompanhei desde essa altura o desenvolvimento da psicologia em Portugal, quer no âmbito académico quer na sua aplicação e implementação profissional. Em 2014 iniciei funções como psicólogo no Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria. Vindo de um contexto de psicologia clínica privada, moveu-me uma forte vontade de perceber como podiam os psicólogos e a psicologia chegar ao grosso da população, nomeadamente aquela que não tinha meios para pagar consultas de psicologia no serviço privado, ou não tinha acesso a seguros privados de saúde.

Mais uma vez senti a importância da psicologia e dos seus serviços no contexto do SNS. Era chamado para todos os serviços (cardiologia, serviço da dor, apoio aos profissionais, intervenção em crise e no luto, formação de profissionais de saúde, internamentos) e junto de todos ouvia a frase clássica: “Vocês fazem cá muita falta” ou “São precisos mais psicólogos nos hospitais”. Percebi que a psicologia clínica dava respostas diferentes, eficazes e inovadoras no domínio da saúde pública. Contudo, fazia parte de um serviço que, ainda que bem dirigido e que me dava uma importante autonomia, assentava num modelo médico onde inicialmente disponibilizávamos consultas de psicologia com a duração de 30 minutos, com uma periodicidade de cerca de três meses entre sessões.

Logo achei que isso seria impraticável e indignava-me: “Andamos a brincar à psicologia!” ou “Andamos a enganar os utentes!” ou ainda pior “Andamos a passar uma má imagem da psicologia na comunidade!”. Compreendido pelo meu chefe de serviço, as propostas de melhoria esbarravam no facto dos serviços de psicologia não terem autonomia em boa parte dos Hospitais portugueses, não serem financiados pelo estado, e de se validar sobretudo a acessibilidade em detrimento da qualidade dos serviços de psicologia clínica. Éramos 4 psicólogos em todo o centro hospitalar, para uma população de cerca de meio milhão de pessoas e tal como eu, os meus colegas manifestavam o cansaço e a frustração de um trabalho (des)regulamentado, a funcionar completamente fora dos padrões necessários à boa prática psicológica. Era preciso mais literacia psicológica para os restantes profissionais de saúde mental, de saúde em geral e para a população. Era preciso uma reestruturação dos serviços de psicologia nos hospitais e centros de saúde, assente numa cultura de exigência de condições para a prática clínica e consequentemente de qualidade nos serviços psicológicos prestados. Para isso era preciso mais influência nos órgãos de decisão que tutelam a saúde em Portugal.

Da Ordem dos Psicólogos Portugueses criada em 2010 via sair algumas iniciativas que sempre considerava incipientes para a resolução destes problemas. É certo que havia uma certa publicidade aos psicólogos, algumas reuniões com órgãos de poder, mas no fundo tudo permanecia igual para os psicólogos. Em 2018, no meu Hospital, continuava a não haver um serviço de psicologia autónomo, em 2020… também não…

Se no primeiro mandato era tudo novo, no segundo, onde participei na assembleia de representantes da ordem eleito pela lista de oposição à direção vigente, já nada de novo havia, tínhamos uma ordem virada para dentro, cheia de taxas e taxinhas que dificultavam e continuam a dificultar a vida dos jovens psicólogos que saíam das faculdades, focada em formação interna e numa ostentação a roçar o burguês. Todos os elementos que constituíam os órgãos sociais da ordem (direção, conselhos, colégios e representantes da assembleia) tinham quase tudo pago para a sua função. E se era justificável o pagamento de viagens e estadia para a assistência das assembleias, fui surpreendido, certa vez, pela cara de espanto de uma jovem do secretariado de um congresso da OPP em que participei, quando lhe disse que tinha pago a minha inscrição! “mas o Dr. faz parte da assembleia de representantes, não deve pagar!”.

Pensei que não era para isto que fazia parte da assembleia de representantes. Debatia-me com as necessidades dos psicólogos do SNS, com a quase ausência de regulamentação de carreira e escassez de recursos humanos de psicologia nos serviços, com as dificuldades dos jovens licenciados em terem acesso à profissão, com a predação que outras profissões faziam da prática psicológica, e com a falta de cultura psicológica na comunidade. Do lado da direção a resposta não variava muito “Estamos a fazer o possível”, “Não é realista”, “Não dá”. Era uma resposta acompanhada por sorrisos altivos assentes numa tecnocracia autofágica. Enquanto isso, assistia-se a um afastamento da OPP dos psicólogos que representa. A maioria dos meus colegas falava da OPP como “eles” e sempre num tom negativo.

Deixei de participar ativamente na OPP. Mais tarde fui surpreendido pela aprovação com pompa e circunstância pelo estado, e com o regozijo da OPP, do ato psicológico. Fiquei muito preocupado: apesar desta aprovação, a porta continua aberta para que a prática psicológica, sob a forma de psicoterapia possa ser exercida por profissionais que nunca frequentaram uma licenciatura em psicologia e que a psicoterapia ficasse irremediavelmente fora de um enquadramento sério. “Não dá para mais”, “Já é muito bom assim” voltaram a dizer os dirigentes da OPP.

Percebi que se podia fazer mais numa ordem poderosa, porque tem um número grande de associados, porque tem um papel muito relevante na população e porque há uma vontade forte em fazer mais, mais por parte dos psicólogos fora da direção da OPP do que dentro da mesma. Esta é a altura dos psicólogos portugueses fazerem uma escolha séria!

Quem está bem instalado nos seus cargos ou vida profissional e nada mais ambicione da psicologia, não vote em nós!
Quem não se importa com a precariedade dos psicólogos em Portugal na lógica “que importa que haja fome porque, assim como assim, ainda há gente que come”, não vote em nós!
Quem acha que a OPP serve de bibelot para a definição de políticas de saúde e educação, não vote em nós!
Quem acha que 343.728 euros por mandato é pouco para um bastonário dos psicólogos portugueses, mas 400 euros pagos a um estagiário por mês é o possível… não vote em nós!
Quem acha que a psicologia em Portugal está bem, e que não se pode pedir mais deste pequeno país, não vote em nós!
Todos os outros, não fiquem em casa! Mudem connosco e construamos o futuro! Votem em nós!
Estamos juntos para tornar a Psicologia em Portugal mais Forte!

Luís Franklin Marques

Candidato à Assembleia de Representantes pela Região Centro

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