Estes dias desafiaram-me a refletir sobre o que era a Psicologia para mim. Surpreendi-me ao constatar que a minha paixão pela Psicologia não é mais forte do que o meu interesse por outras ciências como a Sociologia e a Antropologia, a História e a Biologia ou pela Arte. Vejo, com o mesmo entusiasmo, um programa sobre desenvolvimento infantil, uma tribo perdida da Nova Zelândia ou sobre a revolução francesa. Se me sento à frente da televisão é muito provavelmente para ver um documentário sobre as florestas da Costa Rica ou sobre a grande barreira de coral. Leio com o mesmo entusiasmo um artigo sobre a Fisiologia do amor ou sobre maus tratos para com as crianças.
No entanto, se há coisa que quem me conhece nunca dirá de mim é que não sou apaixonada pelo meu trabalho. Ser Psicóloga faz parte da minha identidade pessoal! Faz parte do que sou e de quem sou! O que sou resulta de me ter cruzado com pessoas que foram marcantes na minha vida, daquilo que me mostraram, do que me ensinaram e do que me fizeram compreender. Por isso, não vou falar de Psicologia mas de “ser Psicólog@”.
Soube que queria ser Psicóloga quando, nos finais dos anos 80, vi uma jovem psicóloga numa das primeiras rúbricas do género que passou na televisão. Falava do comportamento infantil e daquilo que agora chamamos parentalidade com uma paixão que não me permitia desviar os olhos nem por um segundo. Naquele momento soube o que queria fazer para o resto da minha vida: queria falar do meu trabalho com o mesmo brilho e convicção.
Na faculdade cruzei-me com outros Psis com a mesma chama e deles bebi o significado de empatia e a arte da escuta ativa, o poder de uma relação terapêutica e a noção de que o nosso trabalho se baseia em provocar mudança, equilibrando desafio e apoio.
Formei-me e levei comigo o que aprendi para o consultório, para a escola e para a empresa, para as salas de formação e para as casas de acolhimento… Aí encontrei outros colegas e, em cada um destes sítios, por cada um deles, fui desafiada e apoiada… e cresci. Recebi tanto ou mais do que dei e multiplicou-se a vontade e necessidade de aprender.
Fiz pós-graduações, formações, workshops, mestrado e doutoramento e por todo o lado encontrei Psicólog@s que alimentaram o meu amor pela profissão. Os meus pacientes, formandos, supervisionados, orientandos e alunos fizeram-me sentir o sabor doce de ajudar cada um/a a encontrar-se e a realizar os seus sonhos. Daí o meu imenso e permanente orgulho em ser Psicólog@.
Acredito que @ Psicólog@ é, em qualquer contexto onde trabalhe, um agente do respeito pelos direitos dos indivíduos e da sociedade. Como decorre do nosso código deontológico, @ Psicólog@ tem a obrigação de respeitar, não só o direito à diferença, mas também cada pessoa como única. Tal exige de nós, enquanto profissionais e enquanto pessoas, a capacidade de não ignorar o desrespeito pelos direitos humanos e de zelar pela sua defesa e promoção, em particular os direitos dos mais vulneráveis e desfavorecidos, enraizando a nossa ação quotidiana em valores como a igualdade e a solidariedade, a justiça social e ambiental e a democracia.
Nos últimos meses, tod@s @s psi foram obrigados a encarar um novo desafio e mais uma vez soubemos adaptar-nos, unir-nos e aprender uns com os outros e ajudar o nosso país. No entanto, precisamos de ir mais longe. Esta pandemia, exatamente pela dimensão que assumiu nas vidas de toda a gente, pelo sofrimento e necessidade de mudança de comportamentos que acarreta, pelo isolamento e distanciamento físico a que tem obrigado, pela ansiedade face ao desconhecido, pela incerteza, pelo medo, pelas perdas que gerou, terá consequências gigantescas e duradouras na saúde mental de um largo número de pessoas.
Nós, Psicólog@s, sabemos que qualquer crise é também uma oportunidade de crescimento e de mudança. @s Psicólog@s são os profissionais que estudam o comportamento e os processos mentais. Quem melhor do que nós pode, então, ajudar cada indivíduo e, desse modo, também a sociedade, a lidar com todas estas alterações, a conseguir ver os aspetos positivos destas mudanças e a encontrar novas formas de vivermos em comunidade, preservando o nosso bem-estar presente e futuro?
A adaptação ao trabalho on-line abriu um mar de possibilidades do qual @s Psicólog@s podem e devem aproveitar. As consultas à distância vieram para ficar mas também o trabalho colaborativo com recurso à internet, seja através de plataformas de reunião ou recorrendo a outras ferramentas que permitem o acesso remoto por vários utilizadores. Abrem perspetivas, criam oportunidades, transformam e alargam o trabalho em equipa, anulam distâncias e facilitam a gestão do tempo. O trabalho d@ psicólog@ encontrou novos horizontes no mundo digital que não podem deixar de ser desbravados.
Enquanto classe, precisamos de nos unir e de sermos mais solidários, de encontrar formas de nos desenvolvermos em conjunto e de nos apoiarmos mutuamente e de valorizarmos o nosso trabalho para o ver valorizado. Temos que garantir a cada jovem Psicólog@ a possibilidade de olhar esta profissão com a mesma paixão que eu sinto e que nós pudemos experimentar e, com el@s, sair deste tempo de mudança e estranheza renovad@s e reinventad@s. É tempo de sermos Psicólog@s pel@s Psicólog@s.