Artigo de Opinião, “A OPP precisa de uma Bastonária, não de um CEO”, por Vítor Alexandre Coelho e Vanda Sousa
A OPP precisa de uma Bastonária, não de um CEO
Até parece estranho ter de afirmar isto, mas não o é. Um CEO é o cargo que está no topo da hierarquia operacional de uma empresa e que possui a responsabilidade de executar as diretrizes propostas pelo Conselho de Administração. Este Conselho, por regra, é composto por representantes dos acionistas da empresa. Ou seja, um CEO provém de um contexto empresarial, que pressupõe acionistas. A Ordem dos Psicólogos Portugueses não tem acionistas, tem membros. E, pasme-se apesar da OPP, nos seus Estatutos não prever nem reconhecer a existência de tal cargo, o atual Bastonário intitula-se CEO da OPP. E, na verdade, isso traduz corretamente a sua relação com os membros da OPP.
Num sistema empresarial, o CEO está lá para garantir os interesses da maioria (ou de grupos de acionistas) e isso explica bem a energia com que a OPP persegue os colegas que não conseguem pagar as suas quotas. E faz sentido, um CEO acharia normal atiçar a Autoridade Tributária para cima de colegas que, muitos deles contraíram dívidas em 2011 e 2012, altura em que a OPP ainda não tinha um processo que permitia a suspensão de cédula e que os serviços informavam as pessoas que o que tinham a fazer era parar de pagar quotas e esperar por uma suspensão automática (que nunca chegou). Já um(a) Bastonári@ deveria ponderar outros fatores.
Será também esta lógica empresarial que levou o atual Bastonário, quando confrontado no 1º debate entre candidatos às presentes eleições à OPP com as ações da candidata a Bastonária da Lista A – Psicólog@s pel@s Psicólog@s (em conjunto com vári@s outr@s psicólog@s) na defesa dos direitos das crianças institucionalizadas após a pandemia, a declarar que também a OPP tinha feito a sua parte, porque tinha enviado um ofício…
É provavelmente esta mentalidade de CEO que leva o atual Bastonário a afirmar coisas que para o comum d@s psicólog@s parecem estranhas, como que o seu salário de mais de 6100€ por mês (um salário superior ao do 1º ministro de Portugal), é aceitável e que “apenas leva 3200€” para casa por mês, como afirmou no debate. Afinal, como ele afirma, o seu salário dignifica a profissão e a classe d@s psicólog@s. Também a sede, que custou mais de 3Milhões de Euros (2,2 Milhões de Euros pela aquisição + 500.000€ pela solução financeira e mais de 600.000€ em obras para permitir a sua abertura) tinha de ser assim, porque dignifica a profissão. Curiosamente, quando fala na Linha SNS24, a bitola do CEO muda e diz que os psicólogos têm de se sujeitar às condições do mercado e que receber 2,5€/chamada ou 7€/hora é uma pena, mas pronto é melhor que nada…
Creio que pensar no atual Bastonário como o CEO da OPP nos ajuda realmente a perceber o que se passa na OPP atualmente. Mas se refletirmos um pouco sobre o destino dos grandes CEOs das últimas décadas em Portugal, teremos de achar que talvez não seja este o modelo que queremos para @s Psicólog@s Portugueses. Afinal onde andam atualmente Ricardo Salgado? Zeinal Bava? Jardim Gonçalves? Na verdade, creio que se refletirmos mais profundamente sobre o que necessita a OPP no presente momento chegaremos à conclusão de que não é do motor de uma complexa engrenagem mas de um coração que bata num peito humano.
Vítor Alexandre Coelho e Vanda Sousa
Candidatos à Assembleia de Representantes pela Região Sul