Artigo de Opinião, “A Precariedade dos Psicólogos Portugueses”, por Adriana Bugalho
A Precariedade dos Psicólogos Portugueses
A precariedade é um tema amplamente abordado, mas talvez ainda bastante subvalorizado quando falamos de Psicologia e do trabalho dos Psicólogos. Os exemplos são muitos e gritantes!, mas verifica-se que nas escolas e nas instituições particulares de solidariedade social continua a existir uma lógica de “tapa buracos” em vez de uma resposta condicente com as reais necessidades das populações às quais os Psicólogos servem. É exigido aos Psicólogos um nível de trabalho que não se coaduna com as condições de trabalho que lhes são impostas. Ora vejamos. Nas escolas: psicólogos sem instrumentos de avaliação/intervenção que precisam, número de alunos muito superior àquele que é possível dar resposta (de qualidade), dificuldade em atuar no âmbito da prevenção (saúde mental, comportamentos de risco, insucesso escolar, etc), inexistência de sistemas de registo de informação próprios e confidenciais, mobilidades que não são aceites pelo Ministério da Educação e ainda… a incerteza do que acontecerá no ano seguinte. Muitos Psicólogos estão nas escolas através de projetos! Projetos que têm duração, que podem ou não ser renovados. Escolas que ficam a centenas de quilómetros dos locais de residência dos psicólogos, obrigando-os a andar sucessivamente “de mala às costas”. Quem é a voz destes Psicólogos afinal? Continuarão sozinhos nesta luta inglória?
Nas IPSS’s: Psicólogos com as mais diversas formações, a dar respostas muitíssimo exigentes, tantas vezes sem os recursos adequados e com uma remuneração que fica aquém (muito aquém) daquilo que seria desejável para que o próprio serviço possa ser prestado com qualidade. Com 830 euros líquidos ao fim do mês, qual é o Psicólogo que poderá continuar a fazer formação? Qual é o Psicólogo que poderá pagar supervisão? Qual é o Psicólogo que conseguirá comprar materiais para intervir? O sentimento de solidão nas IPPS’s é, arrisco-me a dizer, ainda maior do que nas escolas. A contratação através de projetos financiados por fundos comunitários é cada vez maior e como já se referiu: findo o período do projeto, outro virá, se vier… no mesmo ou noutro local. Ouvem-se poucas soluções por parte de quem deveria efetivamente defender os Psicólogos! mas uma das que me aborrece profundamente é a de a solução está no criar um negócio próprio (a máxima do ser empreendedor). Mas afinal, os serviços e a comunidade, precisam ou não dos Psicólogos? Se a resposta a esta questão é inequívoca, pois que se aposte na contratação dos Psicólogos, com condições de trabalho dignas, que valorizem o próprio, a ciência psicológica e que permitam respostas com a máxima qualidade. É preciso pressionar o poder político? Pois que se pressione! É preciso ouvir os colegas que trabalham nestas áreas, muitos há anos a fio, para perceber de que é que precisam realmente? Que se faça! Mas para tal, é preciso que consigamos ter da Ordem uma resposta voltada para os seus membros.
Adriana Bugalho
Candidata à Direção Nacional