Sub-representações da Psicologia: Como constituir um elemento importante na construção social da realidade quando a realidade não a conhece?

Psicologia do Social, do Trabalho e das Organizações! Sabiam que esta é uma especialidade dentro da psicologia? Claro que sim! Para tod@s @s psicólog@s parece ser evidente e nem é posto em causa. Mas não é assim tão evidente para a Sociedade em geral, para muitos profissionais e responsáveis de organizações, que não conhecem as especificidades e singularidades do trabalho que fazemos, bem como os seus limites com outras áreas. Quando iniciei as minhas funções de docente numa licenciatura em psicologia em 2007 fui confrontada por um aluno de primeiro ano que na primeira aula que me disse que esta área não era psicologia! Tinha a representação de psicologia que a maioria das pessoas têm: psicologia clínica, contexto de intervenção individual. Recordo com inquietação, mas também com convicção que cabe a cada um de nós fazer reconhecer a nossa área. Decorrente deste confronto debatemos cada uma das áreas da psicologia, organizei um evento que permaneceu durante anos “Olhares sobre a psicologia” que possibilitava aos jovens estudantes terem contacto com profissionais nas mais diversas áreas da psicologia. Também a investigação confirma esta sub-representação de algumas das nossas áreas de especialidade. Uma pesquisa nas bases de dados Scielo relativa à representação social da Psicologia e dos psicólogos permitiu identificar doze estudos que confirmam a representação o meu aluno.

A generalidade dos estudos refere que a representação social da Psicologia e do psicólogo estão ligadas à área clínica. Mesmo para os estudantes de Psicologia, as áreas da Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, da Educação ou outras, surgem como periféricas ocupando a área clínica uma centralidade evidente. As funções de ajudar, escutar, apoiar a resolução de problemas, orientar aparecem de forma recorrente nos estudos, bem como uma visão individual do psicólogo, provavelmente ajustada à ideia da Psicologia Clínica. De referir ainda o caso de dois estudos em particular que constatam que a representação do psicólogo é a de um profissional que procura a adaptação e integração dos sujeitos e não a transformação social (Praça & Novaes, 2004; Rittner, 2008).

Tive oportunidade de coordenar um estudo sobre as representações sociais da psicologia numa amostra de 205 portugueses da população em geral e os resultados evidenciam que a representação dominante em termos interventivos continua a ser a clínica curativa e o paradigma médico. Temos cada um de nós e a nossa Ordem de mudar esta visão, explicar ao mundo o que fazemos e a nossa mais valia nos contextos de sociais, de trabalho e das organizações!

Não posso deixar de terminar com uma frase escrita em 2002 por um Professor que muito estimo:
“Enfim, a psicologia tenderá a tornar-se mais popular, como sucedeu com a psicanálise, a tornar-se representação social, e sob esse aspecto a constituir um elemento importante na construção social da realidade. Se o século XX foi o século da psicologia, o século XXI sê-lo-á, porventura, ainda mais.” (Jesuíno, 2002, p.223)

A psicologia tornou-se representação social, mas não será na verdade uma visão incompleta da psicologia? Como constituir um elemento importante na construção social da realidade quando a realidade não a conhece?

É tempo de dar voz aos psicólogos, trabalhar e apoiar para o reconhecimento e valorização dos nossos profissionais!

Sónia P. Gonçalves
Candidata ao Conselho de Especialidade em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações