Artigo de Opinião, “A interioridade na Psicologia ou a Psicologia no Interior”, por Sandra Barroso
A interioridade na Psicologia ou a Psicologia no Interior
Sou psicóloga há 23 anos e, ao longo do meu percurso profissional, tenho exercido a minha actividade em diferentes territórios geográficos. Há 13 anos saí de uma cidade do litoral, com forte influência universitária, rumo a Viseu. Aqui encontrei a Cidade Jardim, com a força de Viriato e uma excelente qualidade de vida. Mas aqui encontrei também o peso da interioridade. Situada num planalto, em pleno coração de Portugal, como os autóctones gostam de realçar, Viseu parece viver enclausurada não apenas entre as sete serras que a circundam, mas também entre as suas próprias fronteiras geográficas. A inexistência de uma ferrovia e uma rede viária precária ou com custos elevados, acabam por condicionar as suas gentes nos movimentos tão enriquecedores de visitar e de serem visitadas por outras gentes.
O peso da interioridade sente-se também pela desigualdade de oportunidades. Aos mais diversos níveis. No que à Psicologia diz respeito, essa desigualdade de oportunidades é uma constante, e transversal aos vários domínios do ser-se Psicólog@.
Logo à partida, a inexistência de oferta formativa completa, condiciona o acesso dos jovens viseenses à formação base na área da psicologia, criando assim uma desigualdade de oportunidades (que se estende também a outras áreas do saber e profissionais). Depois, aquel@s que persistiram no sonho de serem psicólog@s (e que tiveram condições económicas para prosseguir a sua formação noutras cidades), enfrentam a enorme dificuldade em concretizar o seu estágio profissional de acesso a membro efectivo da Ordem, numa clara desigualdade em relação aos psicólog@s juniores de outras zonas do País. Desigualdade que se estende depois à procura de emprego, pelas parcas ofertas para os psicólog@s existentes (quer sejam os de primeiro voo ou mesmo os mais velhos, que procuram mudar).
Outro fardo da interioridade sente-se ao nível da formação ao longo da vida e do desenvolvimento pessoal. As oportunidades formativas na área da psicologia são escassas, e a frequência de ofertas noutros pontos do País implica sempre um esforço acrescido em termos financeiros e de tempo. Neste âmbito, destaco também os ciclos formativos acreditados para a obtenção da especialidade avançada em psicoterapia, cujas especificidades e a inexistência de ofertas (quer da componente formativa quer muitas das vezes da psicoterapia individual e da supervisão necessárias) colocam @s psicólog@s do interior em clara desvantagem no acesso à mesma.
Por último, falar do isolamento com que muit@s d@s psicólog@s de Viseu exercem a sua actividade, muitas vezes sendo o único elemento da suposta Equipa de Psicologia das instituições em que trabalham, e que nem sempre consegue ser atenuado pela pertença a grupos de pares que possam proporcionar momentos de partilha e de crescimento profissional, como sejam grupos de intervisão ou de supervisão.
Estas são algumas das dificuldades que identifico nesta caminhada de se ser psicólog@ numa cidade do interior. Mas sinto também que a cidade tem crescido! Mas precisa de crescer ainda mais, no sentido de encurtar distâncias e promover maior igualdade! A herança de Viriato é forte, e os psicólog@s de Viseu são resilientes e empreendedores! Acredito que, juntando sinergias, #AMudançaÉPossível! E este meu sentir encontra eco no Programa da Lista A (na sua visão das reais necessidades d@s psicólog@s e nas suas propostas de melhoria) uma equipa que agrega vários psicólog@s, de diferentes áreas e de diferentes zonas do País, que partilham.
o sentir e a vontade de @mudarparairmosmaislonge, numa caminhada que será sempre dos Psis Pel@s Psis.
Candidata à Assembleia de Representantes pela Região Centro